Em agosto de 2024, a história de Damien Gath, um britânico de 52 anos com doença de Parkinson, ganhou destaque na imprensa internacional.
Reportagens mostraram o paciente realizando atividades simples, como preparar café e caminhar com menos rigidez, poucos dias após iniciar uma nova terapia medicamentosa.
O caso rapidamente se espalhou pelas redes sociais e reacendeu o debate sobre avanços no tratamento da doença.
Mas o que realmente aconteceu? E o que a ciência já sabe sobre esse novo medicamento?
Damien Gath recebeu o diagnóstico de doença de Parkinson cerca de 12 anos antes.
Nos últimos anos, apresentava tremores intensos, lentidão dos movimentos e rigidez muscular, mesmo usando múltiplas doses de levodopa e outros medicamentos orais ao longo do dia.
Essas flutuações motoras dificultavam atividades cotidianas e o descanso noturno, cenário comum em pacientes com doença avançada.
O início da nova terapia
Em julho de 2024, Gath foi selecionado pelo Sherwood Forest Hospitals NHS Foundation Trust, no Reino Unido, para receber o medicamento Produodopa, uma combinação de foslevodopa e foscarbidopa.
Ele se tornou o primeiro paciente da região East Midlands a utilizar essa terapia, aprovada recentemente pelo sistema público britânico (NHS England) para casos avançados da doença.
O tratamento consiste em uma infusão subcutânea contínua (24 horas por dia) por meio de uma bomba portátil.
Essa formulação mantém níveis mais estáveis de dopamina no cérebro, reduzindo os períodos em que o paciente sente a perda de efeito do medicamento oral.
O caso que ganhou o mundo
Poucos dias após o início da infusão, vídeos gravados pela equipe médica mostraram Damien com melhora visível na rigidez e na mobilidade.
Essas imagens foram divulgadas pela instituição e repercutiram na imprensa em 12 de agosto de 2024, em uma matéria publicada pela revista Newsweek com o título “Incredible difference in man with Parkinson’s just days after new therapy”.
Em seguida, veículos como The Independent, New York Post e Sky News reproduziram o caso.
Nas entrevistas, Gath relatou sentir-se “muito mais estável”, conseguir dormir melhor e realizar tarefas que antes exigiam ajuda.
Sua esposa afirmou que o cotidiano da família havia mudado significativamente, com mais independência e menos limitações funcionais.
O que é a Produodopa
A Produodopa é uma combinação farmacológica que transforma a levodopa em uma forma solúvel e estável para infusão subcutânea, administrada junto a uma versão fosforilada da carbidopa.
Esse sistema proporciona estimulação dopaminérgica contínua, reduzindo a variabilidade da resposta motora e o tempo “off”.
Ela é indicada para pacientes com Parkinson avançado cujos sintomas já não são bem controlados com comprimidos orais.
O que mostram os estudos científicos
Estudos de fase 3 e extensões abertas avaliaram a eficácia da infusão contínua de foslevodopa/foscarbidopa em pacientes com Parkinson avançado.
Os resultados publicados em revistas como The Lancet Neurology e Annals of Movement Disorders indicam:
Aumento do tempo “ON” (período de melhor mobilidade) sem intensificação das discinesias;
Redução do tempo “OFF”, quando os sintomas retornam;
Melhora na qualidade de vida e na estabilidade motora diária;
Boa tolerabilidade, com reações leves no local de infusão como evento adverso mais frequente.
Essas evidências sustentam que a Produodopa é eficaz e segura para o controle sintomático da doença em estágios avançados.
O que ainda precisa ser avaliado
Apesar dos resultados positivos, ainda há questões em aberto:
Falta de dados de longo prazo além de dois anos de uso contínuo.
Evidências limitadas fora da Europa e América do Norte, dificultando extrapolações globais.
Custos e logística elevados, com necessidade de bomba portátil, treinamento e acompanhamento especializado.
O medicamento não altera a progressão da doença, apenas otimiza o controle dos sintomas motores.
Essas limitações indicam que o tratamento representa um avanço sintomático importante, mas não uma cura.
Reabilitação e integração terapêutica
A estabilidade motora proporcionada pela Produodopa amplia o potencial das intervenções de fisioterapia e reabilitação neurofuncional.
Pacientes com menor variação motora ao longo do dia tendem a se beneficiar mais de treinos de marcha, equilíbrio e atividades funcionais.
No entanto, o acompanhamento interdisciplinar continua essencial, tanto para o ajuste da bomba quanto para a educação do paciente e o monitoramento de efeitos locais.
A fisioterapia mantém papel fundamental na adaptação funcional, prevenção de complicações secundárias e preservação da independência.
O caso de Damien Gath marcou um momento de visibilidade para uma tecnologia que vinha sendo estudada há anos.
Os ensaios clínicos indicam que a Produodopa é eficaz e segura para reduzir flutuações motoras em pacientes com Parkinson avançado, trazendo melhora significativa na qualidade de vida.
Entretanto, ainda são necessários estudos de longo prazo e avaliações econômicas e populacionais para confirmar o impacto do tratamento em larga escala.
A divulgação do caso reforça a importância de comunicar avanços científicos com equilíbrio: celebrar os progressos sem criar expectativas de cura imediata.