Saúde mental e reabilitação: como a fisioterapia e o autocuidado se conectam

No último 10 de outubro, foi celebrado o Dia Mundial da Saúde Mental, e em 13 de outubro, o Dia do Fisioterapeuta, duas datas que nos convidam a refletir sobre a importância do equilíbrio entre corpo e mente, especialmente durante os processos de reabilitação.

A saúde mental é um dos pilares da funcionalidade humana e influencia diretamente a forma como o indivíduo se engaja no tratamento e enfrenta as limitações impostas por uma condição clínica. Durante a reabilitação, o corpo e a mente não podem ser vistos de forma isolada. A fisioterapia, tradicionalmente reconhecida por promover o restabelecimento do movimento e da funcionalidade, também exerce um papel fundamental no fortalecimento emocional e no resgate da autoestima do paciente.

A prática fisioterapêutica ultrapassa a execução de exercícios e protocolos. Cada atendimento representa um espaço de escuta, motivação e reconstrução da autoconfiança. Ao orientar o paciente, o fisioterapeuta estimula o senso de capacidade, a percepção de progresso e a esperança — aspectos que favorecem a adesão ao tratamento e reduzem o risco de abandono. Esse vínculo terapêutico, sustentado pela empatia e pela comunicação, tem impacto direto no sucesso da reabilitação e na qualidade de vida.

Após uma lesão, seja ortopédica, neurológica ou durante um processo específico como a gestação, o indivíduo vivencia um período de intensas mudanças físicas e emocionais, passando por transformações significativas. Há uma quebra na rotina, mudanças no corpo e muitas vezes uma sensação de perda de identidade ou independência. Essa fase de adaptação pode gerar reações emocionais como ansiedade, irritabilidade, tristeza e medo do futuro. Por isso, o fisioterapeuta e a equipe interdisciplinar devem atuar não apenas como reabilitadores, mas também como agentes de acolhimento e orientação.

A observação clínica é uma ferramenta valiosa nesse processo. O fisioterapeuta, por estar em contato frequente com o paciente, pode identificar alterações de comportamento, queda de motivação ou sinais de sofrimento emocional. Entretanto, é essencial compreender os limites éticos da atuação: o fisioterapeuta não substitui o psicólogo. Quando há indícios de sofrimento psíquico, sintomas depressivos ou dificuldades emocionais persistentes, o encaminhamento para avaliação psicológica é indispensável. O trabalho conjunto entre fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional e outros campos da saúde é o que realmente sustenta uma abordagem biopsicossocial, conceito central da reabilitação contemporânea.

O modelo biopsicossocial, proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entende que a saúde é resultado da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Nesse sentido, cuidar do corpo sem cuidar da mente é tratar apenas uma parte da pessoa. A reabilitação deve, portanto, considerar não apenas a função muscular e articular, mas também o sentido de pertencimento, a autopercepção e o engajamento emocional do paciente no processo terapêutico.

Além disso, o autocuidado é uma estratégia poderosa. Incorporar pequenos hábitos diários, como alongar-se ao acordar, praticar respiração consciente, manter uma alimentação equilibrada, dormir adequadamente e reservar tempo para o lazer, pode reduzir níveis de cortisol (hormônio do estresse) e melhorar o humor e a disposição. O fisioterapeuta tem o papel de educador em saúde, ajudando o paciente a reconhecer seus limites e fortalecer sua autonomia para o autocuidado.

A reabilitação não é apenas um processo técnico, mas uma jornada de autoconhecimento, resiliência e reinvenção. Cuidar da saúde mental durante essa trajetória é um gesto de coragem e amor próprio. O movimento cura, mas é o equilíbrio entre corpo e mente que transforma o processo de recuperação em um verdadeiro caminho de superação.

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