Após uma lesão neurológica, o sistema nervoso possui mecanismos de reorganização estruturais e funcionais conhecidos como neuroplasticidade (Kleim & Jones, 2008). Nesse contexto, a reabilitação neurofuncional é utilizada para intensificar tais mecanismos com o objetivo central de promover a recuperação funcional do indivíduo acometido. Dentre os princípios da neuroplasticidade, destacam-se a importância do uso ativo para fortalecimento das conexões neurais; bem como a repetição, intensidade e significância da tarefa que influenciam na aprendizagem motora e facilitam a transferência das habilidades para diferentes contextos (Nudo,2006).
As tarefas significativas são aquelas que possuem objetivo claro e estão relacionadas ao cotidiano do paciente. O uso de atividades como como alcançar um copo de água ou pentear os cabelos aumentam a motivação durante o treino o que promove maior engajamento, ativação cortical e consequentemente melhor recuperação funcional (Winstein et al., 2016; Wulf et al., 2016)). É importante salientar que, no âmbito da fisioterapia, o treino dessas tarefas não possui como objetivo final único a sua realização em si, mas sim o treino dos componentes biomecânicos envolvidos nela que possibilitam sua conclusão com base nos princípios de aprendizagem motora e especificidade.
A repetição sistematizada dessas tarefas durante o treinamento permite a consolidação dos aprendizados motores pelo fortalecimento das conexões sinápticas envolvidas (Lang et al., 2007). A prática deve ser ativa e progressiva, de modo que as tarefas devem se tornar desafiadoras ao passar das sessões, para que seja possível se estabelecer padrões motores eficientes. Além disso, a presença de feedbacks durante sua realização é importante para melhorar a qualidade do movimento e estimular a reorganização da tarefa, sendo importantes como mecanismos de correção e reforço positivo, com o intuito de favorecer a recuperação motora, aumentar o engajamento e autonomia do paciente (Wulf et al., 2016).
Na prática clínica, esses princípios são aplicados por meio de atividades funcionais que reproduzem situações cotidianas. Por exemplo, o treino de sentar e levantar de cadeiras com diferentes alturas, estimula o controle de tronco, a força dos membros inferiores e equilíbrio. Alcançar objetos posicionados em prateleiras promove o uso funcional do membro superior acometido, outras tarefas, como vestir roupas ou utilizar utensílios domésticos, podem ser utilizados para treinar habilidades motoras finas e grossas, bem como força de preensão. O treino de marcha, quando realizado em diferentes contextos (como implementando degraus, rampas ou obstáculos) favorece a adaptação postural, a propriocepção e o equilíbrio. Essas atividades, quando realizadas de com repetição suficiente e feedbacks contínuos, ampliam a capacidade funcional e reforçam os mecanismos de reorganização neural ao favorecer os mecanismos de neuroplasticidade intrínsecos e estimular a adesão do paciente a terapia, sendo indispensáveis na reabilitação neurofuncional centrada no paciente.
Saiba o que a Fisioterapia Neurofuncional pode ajudar no tratamento de diversas sequelas neurológicas.
Texto elaborado e produzido por
Dra. Maria Eduarda Salum Aveiro Henrique
Fisioterapeuta