Células-tronco no AVC em 2025: o que já sabemos (e o que ainda falta)

Por que falar de células-tronco no AVC agora?

Em 2025, um estudo em Nature Communications mostrou que xenotransplantes de células-tronco neurais humanas sobreviveram e se integraram ao tecido cerebral de camundongos com AVC, com ganhos funcionais e pistas de reconstrução de circuitos (neurogênese, sinaptogênese, angiogênese). 

O que temos em humanos (ensaios clínicos)

  • Meta-análise em rede (2025, BMC Neurology): sinal de melhora funcional com terapias celulares, mas alta heterogeneidade entre tipos de células, doses, vias e janelas; faltam ensaios grandes e padronizados. 

  • Meta-análises (2024) com células-tronco mesenquimais (MSCs): sugerem benefício modesto em escalas neurológicas e de AVD, com perfil de segurança globalmente aceitável; autores pedem estudos maiores e padronizados.

  • TREASURE (JAMA Neurology, 2024) — RCT multicêntrico com MultiStem® IV 18–36 h pós-AVC: segurança confirmada, mas sem benefício no desfecho primário em 90 dias (sinais exploratórios em subgrupos). 

Como (provavelmente) funciona?

Além de possíveis neurônios enxertados, atuam mecanismos de imunomodulação, neuroproteção, angiogênese e plastia sináptica que melhoram o microambiente pós-AVC. A prova direta de integração funcional em humanos ainda é limitada, mas consistente com achados pré-clínicos. 

Segurança, via e tempo

  • Segurança: eventos adversos geralmente leves/moderados; sem sinal de tumorigenicidade nos acompanhamentos disponíveis, exigindo vigilância de longo prazo

  • Vias de administração: IV e intra-arterial são mais viáveis em clínico; implantes intracerebrais aparecem em protocolos específicos. 

  • Janela terapêutica: estudos exploram do agudo ao crônico; há hipóteses de janelas retardadas que favoreçam a viabilidade do enxerto, mas a melhor janela ainda é incerta

O que dizem diretrizes e ética

As Diretrizes da ISSCR reforçam que terapias celulares devem permanecer baseadas em evidências e, fora de protocolo, não devem ser oferecidas como tratamento estabelecido — ou seja, a indicação é dentro de ensaios clínicos aprovados e com consentimento informado. 

Tradução prática para a clínica

  • Promissor: o pré-clínico de 2025 reforça plausibilidade biológica para reparação neural. 

  • Cautela: em humanos, o status é experimental; a melhor estratégia (tipo celular, dose, via, tempo) ainda não está definida.

  • Integração com reabilitação: qualquer terapia celular futura tende a ser adjunta, não substituta, da reabilitação neurofuncional intensiva e baseada em evidências.


FAQ rápido

Já posso fazer no Brasil?
Apenas em ensaios clínicos aprovados e registrados. Procure centros que publiquem resultados e sigam boas práticas (registro, comitê de ética, monitoramento). 

Serve para todo tipo de AVC e fase?
Não há consenso. Ensaios testam tipos celulares, vias e janelas diferentes; resultados variam. 

É seguro?
Até aqui, os estudos mostram boa tolerabilidade; faltam dados de longo prazo e padronização. 


Nota importante: Terapia celular para AVC não é tratamento padrão hoje; discuta sempre em equipe multiprofissional e, se houver interesse, avalie participação em pesquisa.

Referências principais usadas no post

  • Weber RZ et al. Nature Communications (2025): integração e reparo com enxertos neurais em modelo murino de AVC. Nature

  • Chang W et al. BMC Neurology (2025) — meta-análise em rede de terapias celulares no AVC isquêmico. BioMed Central

  • Shen Z et al. J Clin Med / PMC (2024) — meta-análise de MSCs em AVC. PMC

  • Houkin K et al. JAMA Neurology (2024) — RCT TREASURE (MultiStem®) 18–36 h pós-AVC: segurança, sem benefício no primário. JAMA Network

  • ISSCR Guidelines (2021/atualizadas): princípios para pesquisa/uso clínico responsável em terapias celulares. isscr.org

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